Milionário chinês decide vender ar enlatado
Publicado no R7
Guangbiao quer conscientizar a população de seu país sobre a poluição atmosférica
Vender ar enlatado: essa é a ideia do multimilionário e filantropo chinês Chen Guangbiao para conscientizar à população de seu país da gravidade do problema que representa a poluição atmosférica e da necessidade de se proteger o meio ambiente.
Chen, uma celebridade na China, anunciou nesta semana que colocará tendas ambulantes nas cidades de Pequim, Xangai e Guanzhou para vender ar fresco em latas a partir do dia 17 de setembro, cinco dias antes da celebração do Dia Mundial sem Automóvel.
O primeiro lote de 100 mil latas de ar limpo será vendido entre quatro e cinco iuanes (pouco mais de R$ 1,20). Por cada lata vendida, o filantropo doará 0,10 iuanes (R$ 0,02) a organizações de caridade.
O ar, segundo garante o milionário, será colhido em províncias e regiões chinesas com pouca poluição, como as de Qinhai, Tibete e Yunnan.
Segundo declarou aos meios de comunicação chineses, “muitas pessoas das grandes cidades já estão cansadas de respirar ar contaminado”.
A enorme poluição, e as doenças respiratórias decorrentes da mesma, é um dos grandes problemas nas principais cidades chinesas, onde em dias de forte poluição a visibilidade pode ficar afetada.
O desafio de se poder desfrutar do ar limpo permanece latente entre a população chinesa, que vê com ceticismo como as medições governamentais de contaminação diferem do que sentem nas ruas.
As estatísticas oficiais admitem que a área do litoral leste chinês, que concentra 27% da população e 43% do Produto Interno Bruto nacional, sofre uma média de 100 dias de contaminação anuais.
Esta região mostra uma concentração até quatro vezes superior do nível de partículas inaláveis PM2.5 (de 2,5 micrômetros de diâmetro, 30 vezes menor que um fio de cabelo humano) considerado saudável pela Organização Mundial da Saúde, segundo os dados do Ministério de Proteção Ambiental chinês.
Um relatório da Nasa (agência espacial americana) vai além e alerta que essa zona é a região do mundo mais afetada pelas partículas PM2.5. No ano passado, um relatório do ministério chinês revelou que quase 40% das 113 maiores cidades do país sofrem níveis de contaminação alarmantes.
A apreensão se multiplicou quando instituições estrangeiras independentes revelaram que as leituras dos níveis de contaminação por parte do governo chinês não incluíam as partículas de diâmetro inferior a 2,5 micrômetros. Essas partículas, ao serem respiradas, podem se alojar nos pulmões e inclusive entrar na corrente sanguínea e causar graves problemas de saúde, podendo levar à morte nos casos mais extremos.
A diretora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace na China, Li Yan, especifica que “as pessoas costumam apontar o aumento de veículos como a maior fonte de contaminação, embora na realidade grande parte da poluição venha da queima de carvão, causando cerca de 60% da poluição”.
Recentemente, o governo chinês anunciou que vai melhorar sua medição exata de poluentes e que todas as cidades chinesas contarão, por volta do ano 2015, com um sistema de medição das partículas poluentes menores — e nocivas — na atmosfera.
A conscientização cidadã também está crescendo. No mês passado as autoridades cancelaram o projeto para se construir um duto de resíduos industriais após violentas manifestações no leste chinês.
Na província de Sichuan também foi cancelado em julho um projeto para a construção de uma refinaria de cobre após manifestações de milhares de pessoas temerosas dos efeitos nocivos à saúde que a indústria poderia causar.
Diante desta situação, Li dá as boas-vindas a iniciativas como a de Chen e suas latas de ar. “É uma ideia muito criativa, uma atividade muito significativa”, considera Li. “Pode mostrar para as pessoas que é o ar é precioso e que tem um custo”, declarou.
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